passei na sua praça
você acha graça
passos
em paço
estilhaço
peça preço
endereço
telefone
identidade

peço espaço
esclaresço faço
o que me convém

posso rir
você diz vem
eu você
alguém

orgulho
sensação ou sentimento excessivo
de contentamento, de entusiasmo

tenho orgulho de você
tenha orgulho de você
orgulho pode amar 
pode amor

se vai sozinho
o orgulho dá em quem?
ou não dá
fruta fora de época
fora de casa
dá saudade?

um de um lado
um de outro
excessivo
contrário
contrato?
crise

é noite
o varredor de rua trabalha
e varre as estrelas que caíram do céu

onde será que ele as esconde?

um mês

era bom
era boa
o cabelo penteado depois do banho
a tarde de cozinha, com rosquinha

era ordem
era lei
a cama arrumada
a hora da janta

era chamego
era manha
era dengo
era mimo
balinhas nos potinhos
uva passa na boca
copo, caneca, prato enfeitadinhos
nota de vinte num envelope pro lanchinho

era desenho
e eu já estou indo!
era natal
e era cuidado
carinho
beijinho
docinho

era até breve
era vou obedecer
era vou crescer
e você vai poder ver
e você vem comigo
e me protege do perigo.
eu te dou orgulho
e eu te procuro
no escuro
no escuro
da noite, sozinha.

o relógio da copa ficou descontrolado

os paletós e coletes ficaram guardados

a esteira parou de funcionar

ficou esquecida a lâmina de barbear

a loja fechou

o inventário acabou

o silêncio foi predominando

o vazio foi esvaziando

armários vazios

copos vazios

pratos vazios

poltronas vazias

corações vazios

só lembranças, de lembranças estou cheia

um rabisco na palma da mão
anelar indicador dedão

um elástico no pulso
só por precaução

uma fita cetim entre os dedos
pra dançar dança de salão

uma pincelada bem escura
na pontinha,vira um borrão


um toque mansinho
desliza levinho
é quase um carinho
escorre fininho
uma gota de vinho
cai no chão

sambinha bom
não vende em farmácia
mas desce macio, desce soltinho
todo crescidinho

escuta o som
o ritmo a batida o batuque
o baticundum

nesse passo vai-e-vem
perdi a hora.
mas aproveita o agora
pela estrada afora
minha senhora,
vem sambar

nós gostamos de dizer bisnaga
pudim e munheca
e rir do som engraçado que fica voando no ar

nós gostamos do cheiro de tangerina
da cor de morango
de chinelo perdido no mar
nós bebemos vitamina
de abacate framboesa limão laranja ou maracujá
depois comemos, por gula, pão de queijo

nós escondemos bagunça
embaixo do tapete tafetá
nós pedimos beijo
com cara de criança e guaraná
nós pintamos o rosto, o corpo, a mão
por pura diversão
e viramos palhaços
e vestimos vestidos
e preenchemos espaços


nós tropeçamos sozinhos
nós engasgamos sozinhos
nós choramos sozinhos
nós cantamos sozinhos
e observamos todo mundo
e abraçamos qualquer um
e confiamos em alguns
e amamos os raros

nós, os bobos os poucos os ideais os normais